Comunidade comemora os 80 anos de Mãe Ilza Mukalê
Este ano a comunidade do Terreiro de Matamba Tombenci Neto vai celebrar os 80 anos de nascimento de uma das grandes sacerdotisas do candomblé da Bahia:
Além de mãe-de-santo do Terreiro de Matamba Tombenci Neto, Ilza Rodrigues Pereira dos Santos (Mãe Ilza Mukalê), natural de Ilhéus, é fundadora e conselheira espiritual do Grupo Cultural Dilazenze, fundadora dos grupos afro Axé Odara e Lê-guê Depá, colaboradora do projeto social Batukerê, fundadora da SACI (Sociedade Anônima e Cultural de Ilhéus) e presidente de honra da Associação Beneficente e Cultural do Terreiro de Matamba Tombenci Neto.
Mãe Ilza, como é carinhosamente chamada, nasceu no dia 13 de março de 1934, filha de Valentin Afonso Pereira e de Izabel Rodrigues Pereira (Dona Roxa), e tem 14 filhos (10 homens e 4 mulheres), 32 netos , 17 bisnetos e 3 tataranetos. Ela revolucionou o jeito de ser mãe de santo em Ilhéus, ao interagir com a comunidade, abrindo o terreiro para ensaios de blocos afro, afoxés, reuniões de moradores, festas comunitárias, realização de palestras e debates sobre diversos temas.
Mãe Ilza sempre brincou carnaval e participou de inúmeras peças teatrais, sob a direção de Pedro Matos, Luiz Carilo, Romualdo Lisboa e Mario Gusmão. A Mãe de Santo está há mais de 40 anos à frente de um dos terreiros mais antigos da Bahia. Mãe Ilza é filha de Matamba (Iansã) e sua dijina é Mukalê. Seu título religioso é Nêngua de Nkisi (mãe-de-santo) e a nação à qual pertence é a de Angola. Tem 68 anos de feitura, pois realizou suas obrigações aos 12 anos de idade, em Salvador, com a Nêngua de Nkisi Kizunguirá (D. Massu).
O Terreiro Matamba Tombenci Neto já está em sua quarta geração. O primeiro terreiro da família de Mãe Ilza, Aldeia de Angorô, foi fundado em 1885 por sua avó materna Iyá Tidú (Tiodolina Felix Rodrigues, cuja dijina era Condandá) que o dirigiu até 1914. Entre 1915 e 1941, Euzébio Felix Rodrigues (Tata de Nkisi cuja dijina era Gombé), esteve na direção do terreiro por herança de sua mãe carnal Tiodolina. O terreiro passou assim a se chamar Roxo Mucumbo. Em 1942, assumiu a liderança do terreiro aquela que viria a ser a mais famosa mãe-de-santo de Ilhéus, Dona Roxa, ou Roxinha, como era carinhosamente chamada pelos amigos (Isabel Felix Rodrigues). Mameto Inkisiana, cuja dijina era Bandanelunga, herdou o trono de seu irmão Euzébio, passando o terreiro a se chamar Senhora Santana Tombenci Neto. Seu ministério durou até 1973, quando ele faleceu.
Mãe Ilza representa, pois, a quarta geração da família Rodrigues na liderança do terreiro. Assumiu o cargo em 1975 e o terreiro, com ela, passou a se chamar Matamba Tombenci Neto. Mãe Ilza herdou o trono de sua Mãe Dona Roxa e o conduz até hoje com muita competência, garra, coragem e determinação. "Até quando Zambi (Deus) e os Nkisis (orixás) permitirem", afirma a comunidade.